Origem
Não é citada pelos autores que estudaram o encepamento nacional no início do século XX. Nessa época, a designação Alfrocheiro estava ligada a uma casta branca cultivada no Dão e que, actualmente, se designa por Douradinha. Essa casta ainda mantem no Douro a designação de Alfrocheiro Branco.
A Alfrocheiro tinta é, por isso, uma designação relativamente recente (posterior a 1909), embora actualmente seja cultivada na Bairrada, Ribatejo, Alentejo e principalmente no Dão, onde é mais representativa.
A origem recente deste nome leva-nos a pensar que esta casta tinha, no passado, outra designação ou, então, é originária doutro país. O facto de esta casta ser também conhecida por
Tinta Francesa de Viseu (Pereira e Duarte, 1986), poderá indicar a sua possível origem geográfica? Até ao momento, e embora esta casta esteja representada em colecções ampelográficas de outros países vitícolas, nomeadademente na colecção ampelográfica nacional francesa, localizada no “Domaine de Vassal”, próximo de Montpellier, não lhe foi detectada qualquer sinonímia com castas estrangeiras.
Morfologia
Extremidade do ramo jovem aberta, com orla carmim de intensidade média e elevada densidade de pêlos prostrados.
Folha jovem verde esbranquiçada, com média densidade de pêlos prostrados na página inferior.
Flor hermafrodita.
Pâmpano verde a ligeiramente estriado de vermelho e gomos com fraca intensidade antociânica.
Folha adulta de tamanho médio, orbicular, sub-trilobada; limbo de cor verde médio a escuro, em goteira, pouco bolhoso, nervuras principais com fraca intensidade antociânica até à 1ª ramificação; página inferior com média densidade de pêlos prostrados; dentes curtos e convexos; seio peciolar com lóbulos ligeiramente sobrepostos, em V, seios laterais em V aberto.
Cacho pequeno, cónico-alado e compacto.
Bago arredondado, pequeno e negro-azul; película medianamente espessa e polpa mole.
Sarmento castanho amarelado.
Comportamento
Abrolhamento: Precoce, 1 dia após a ‘Castelão’.
Floração: Precoce, 3 dias após a ‘Castelão’.
Pintor: Precoce, 4 dias antes da ‘Castelão’.
Maturação: Precoce, uma semana antes da ‘Castelão’.
Casta vigorosa. Boa fertilidade (1,5 cachos / lançamento). Produção constante.
Porte erecto, imbrincado.
Muito sensível à escoriose e à podridão.
Tem o inconveniente de, em terrenos ricos, as uvas apodrecerem muito. Não deve, portanto, enxertar-se sobre porta-enxertos vigorosos, sobre os quais as uvas apodrecem muito e os vinhos são de fraca qualidade.
Variedade de porte erecto a meio erecto, de médio vigor e com média tendência para o desenvolvimento de netas. O tamanho do entrenó é médio e é bastante regular. Apresenta poucas gavinhas e frágeis.
O seu abrolhamento é precoce.
Tem alta fertilidade, mesmo nos gomos basais, é pouco afectada pelo desavinho e a sua produção é alta e regular. Apresenta frequentemente segunda floração.
Adapta-se a qualquer tipo de poda. A sua vara é de dureza média. A condução da sebe é fácil.
É medianamente susceptível ao míldio, oídio, podridão cinzenta e cigarrinha verde. Apresenta alguma susceptibilidade às carências de boro.
É susceptível ao stress hídrico. Nestas condições o engelhamento do bago é frequente.
O cacho é pequeno, compacto, com pedúnculo pequeno e medianamente lenhificado. Os bagos são pequenos, com destacamento relativamente fácil e película pouco espessa. As graínhas são grandes, bem formadas e em número médio.
A sua maturação é média a precoce.
CONTRIBUIÇÃO DO CENTRO DE ESTUDOS VITIVINÍCOLAS DO DÃO. DIRECÇÃO REGIONAL DE AGRICULTURA E PESCAS DO CENTRO. Vanda Pedroso.
Potencial
Produz vinhos de boa qualidade, desde que as uvas estejam em bom estado sanitário.
Os vinhos de
Alfrocheiro Preto são ricos de cor, apresentando-se como dos mais corados do Dão. Junto à Serra da Estrela e no concelho de Nelas, onde tem condições para amadurecer melhor, proporciona vinhos muito aromáticos, frutados e com grande vivacidade, graças a um excelente equilíbrio entre ácidos e açúcar. Nos célebres vinhos do Centro de Estudos Vitivinícolas, entra na proporção de 25% do que é considerado o melhor lote de todos, juntamente com a
Touriga Nacional, a
Jaen e a
Tinta Pinheira.
Os vinhos possuem forte intensidade corante, são aromáticos e de excelente equilíbrio entre ácidos e açúcar.
Os mostos denotam um teor alcoólico provável elevado e elevada acidez.
Os vinhos são ricos de cor (tinto a retinto), com tonalidades violáceas quando novos. Proporciona vinhos muito aromáticos, frutados, com perfume vinoso, delicado e fino. O sabor é igualmente frutado, encorpado, persistente, muito vivo graças à sua acidez (equilibrado). Muito bom potencial para envelhecimento, principalmente quando feito em madeira nova de carvalho. É uma casta multifacetada, pois conhecem-se dela espumantes de muita qualidade.
Fonte: www.iniap.pt