1. Diagnóstico
É visível um mal estar ou crise na Região da Bairrada no sector vitivinícola – que não será muito diferente da conjuntura nacional, porventura com maior gravidade ou com maior visibilidade. Admitimos que à crise económica conjuntural, o estado actual da viticultura Bairradina seja um factor cumulativo desta crise.
Em todo o caso, o que nos parece mais preocupante é o facto de há 5 anos a Região, através da sua Comissão Vitivinícola, ter realizado um evento tendo como principal objectivo diagnosticar a Região e apontar caminhos rumo ao futuro, para o qual foram convidados especialistas quer da área vitícola, quer enológica e onde a comunidade regional – agentes económicos, técnicos,… participou vivamente e dela saíram documentos escritos que testemunham e apontam caminhos.
No que se refere à viticultura, nós próprios, de parceria com credenciado especialista na área – François Murisier, para além das comunicações orais (que a CVB passou a escrito e publicou) estudamos e elaboramos um texto (Potencialidades vitivinícolas da Bairrada), que a CVB também publicou. O que nos parece preocupante é o facto de 5 anos volvidos, no essencial este documento está actual! neste sentido com algumas notas, anexamos a este escrito o referido texto que consideramos parte integrante do actual diagnóstico.
Questionamo-nos: o que se passou tecnicamente na Bairrada neste 5 anos ?
- Não há tecnologia vitícola ?
- Não há divulgação do conhecimento ? (publicações,…..) ?
Sem prejuízo dalguma resposta afirmativa a tais questões, cremos que a principal causa da crise vitícola da Bairrada assenta num profundo défice de comunicação, de formação, de confiança e de auto-estima.
Nos tempos que correm ninguém se pode fechar sobre si próprio.
A não confiança recíproca, a débil produção de conhecimento e a escassez de sinergias, fragilizaram todas e cada uma das partes, fragilizando essencialmente a Região.
A criação de alguns campos “exploratórios” de experimentação e divulgação – “observatórios” poderão ser muito úteis, sobretudo se os respectivos agentes económicos estiverem efectivamente empenhados – e temos até à data indicadores seguros de que de facto o estão! Mas estes “campos” só por si pouco farão avançar se os próprios Organismos Regionais não os sentirem “seus campos”, seus instrumentos de apoio.
A formação deverá em primeiro lugar dirigir-se aos agentes já envolvidos neste “observatórios” e terá de ser orientada aos “pontos fracos” ou estrangulamentos da Região. Se assim for e as forças do sinergismo superarem os estrangulamentos, bloqueios ou não comunicação, então a Região da Bairrada poderá e deverá dar um salto em frente – que urge e necessita! É com este espírito que estamos no Plano de Acção para a Vitivinicultura Bairradina.
2. Proposta de Plano de Acção (segundo DSPAA)
Áreas de Intervenção
Objectivos:
1 – Clarificar o lugar da Baga no contexto regional. A Baga é um património inquestionável, tem de ser preservado e potenciado. Isto significa assumir que apenas deverá estar implantada nos locais adequados – “grosso modo” nos terrenos argilo-calcários e terá de ser conduzida de moldes a produzir uvas de qualidade – sãs e bem maduras (obrigatoriamente à custa da adequada gestão da vegetação e controlo do vigor e microclima);
2 – Encontrar castas complementares para o encepamento da Bairrada – quer para lotear com Baga, quer para tornar economicamente viável a viticultura nalguns solos onde a Baga não poderá estar em cultura (Merlot?, Syrah?, Jaen?, Roriz?);
3 – Decididamente rever o tipo de manutenção do solo. A técnica tradicional e na prática consagrada em toda a região, da mobilização total do solo (que não mobilização mínima ou parcial!) é um perfeito atentado a uma eficaz manutenção da vinha (pela preservação do solo, operacionalidade das máquinas, sanidade e tratamentos fitossanitários).
Estratégias: actuar de imediato nos “campos experimentais/observatórios” em conformidade com os objectivos atrás referidos. Levar avante formação, tendo em conta as maiores fragilidades técnicas locais.
Indicadores de acompanhamento e avaliação de resultados:
- microclima;
- podridão;
- maturação (oportunidade de vindima – uvas sãs e bem maduras)
Os trabalhos a desenvolver/Plano de Acção de verão conduzir a maior regularidade das vindimas com ganhos globais superiores a 30% (açúcar, cor, sanidade das uvas)
Área de intervenção definidas
1 -
Criação de campos “observatórios” – estão em curso;
2 - Formação – exposição de temas e trabalhos sobre o terreno nos “campos”;
Calendarização
1 - Acompanhamento permanente dos campos;
2 - Curso a definir para final de Julho;
3. Análise da situação de referência (segundo DSPPA)/análise SWOT
Forças: agentes económicos interessados
- Já o demonstraram pela amável cedência das suas vinhas e participação activa nos “campo/observatórios” já em marcha.
- Castas com imagem forte
Maria Gomes e Baga (esta altamente problemática quando incorrectamente conduzida ou localizada).
Fraquezas: défice de comunicação
- Frágil produtividade de “conhecimento”.
- Baixa confiança, formação e auto-estima.
- Tecnologia inadequada para a casta Baga (% elevada na Região)
Oportunidades:
- Criar campos/observatórios (estão em marcha);
- Actuar “sobre o terreno” com os próprios agentes económicos e sustentar e potenciar as boas imagens que existem;
- Saber e procurar criá-las.
Ameaças:
- São uma realidade – o estado actual da “fileira” é o principal indicador
- Ou a tecnologia vitícola regional e a imagem se torna mais credível ou dias mais amargos serão de esperar na Bairrada.
4. Ponto da situação actual
1. Após indicações da CVB e análise conjunta na EVB, chegamos à 1ª aproximação dos “campos” que serviriam de “observatórios” e sobre os quais seriam introduzidas alternativas culturais e monitorizando os efeitos (colheita e tratamento dos dados). Este 1º documento está já elaborado e foi disponibilizado quer à CVB quer à DRABL.
2. Após total implantação de todos os campos “observatórios”, será então realizado o 1º curso - formação para os intervenientes no ponto 1 (Agentes directamente envolvidos nos “campos-observatórios”, assim como técnicos da CVB e da EVB envolvidos no Plano de Acção.
3. Como principais objectivos a atingir, genericamente para todos os campos serão procurados “itinerários culturais” que proporcionem melhores resultados que os actuais, avaliados directamente pelos parâmetros rendimento e qualidade e indirectamente ao longo do ano pelos parâmetros conducentes a tais resultados tais como níveis de fotossíntese, vigor, microclima,…, estado sanitário das uvas ,….
4. Gradualmente serão elaborados relatórios de progresso que atestarão o andamento dos trabalhos. Neste âmbito foi já elaborado o 1º relatório à identificação dos campos experimentais e observatórios sujeito a apreciação final da CVB e o 2º relatório constitui o anexo 4 deste dossier.
5. Decorrente do diagnóstico realizado genericamente poderemos classificar a Bairrada como Região de tecnologia vitícola pouco adequada à conjuntura actual, aos hábitos de vegetação da sua principal casta (Baga) e como amanhos culturais (manutenção do solo) inadequados ao tipo de solo dominante (argiloso) e ao seu clima (chuvas frequentes à vindima e na Primavera).
Com o início da “Acção” em 2004, já depois das operações culturais realizadas só pontualmente foi possível actuar de modo diferenciado sobre o terreno – sendo no entanto objecto prioritário nas acções de formação e nas acções sobre o terreno em 2005.
6. A evolução da maturação e a caracterização das colheitas (amostragem de bagos, micro e médias vinificações,…) merecerão a maior atenção e deverão contar com o indispensável apoio laboratorial e da adega da EVB, sem o qual o “Plano de Acção….” seria precário.
(para mais informações, consultar – Anexo/parte integrante do contrato de prestação de serviços).